Miguel de Cervantes, o verdadeiro autor do Quixote
Arquivado quarta-feira, julho 06, 2005 por Sérgio Lavos | E-mail this post
Comprar um livro porque fica bem em casa é um acto que em mim provoca um sentimento de inexplicável ambivalência. Pois se é verdade que julgo ser uma inutilidade gastar dinheiro em coisa que nunca se lerá, não será abuso conseguir achar nos livros outra serventia para além da leitura, (coisa adicionalmente fugaz), mormente o vulgar uso de enfeite de mesa-de-cabeceira ou estante de sala, quando não calço de móvel desequilibrado. Ora, não posso achar nos outros defeito se por acaso me dizem que fica bem em casa esta última edição do Dom Quixote, e não estou a falar da afamada tradução do José Bento, que há também quem a compre por suas indubitáveis qualidades, mas sim da outra, da editora homónima, que até ostenta nas suas páginas as geniais gravuras do aclamadíssimo pintor surreal, guru espiritual do apreciador de arte cego. Sopesando bem as coisas (isto é, o papel acumulado em múltiplas e encadernadas folhas), que mal há em gastar 50 euros num pouco de pretensiosismo de pacotilha, arremedo de intelectual da galinheira, como poderei eu censurar tal procedimento, eu que em tempos encalhei no Quijote, assim, como se vê, em castellano, eu que agora mesmo recebi de presente a tal versão menos bonita, eu que ainda não decidi se a coloco na estante da sala, do quarto, ou por baixo da mesa-de-cabeceira, eu que posso dizer, como quase todos, que o Quijote é livro para se ir lendo, como a poesia, enfim, dizia, que criticar quando aos ditames da moda inevitavelmente estarei condenado?