Ordem do dia
Arquivado sábado, novembro 06, 2004 por Sérgio Lavos | E-mail this post
O que é exactamente um arquivo morto? O verdadeiro sentido do termo não me interessa, o sentido que ele irá adquirir é o que vou escrevendo. Este blogue não irá sobreviver à custa da banalidade da vida, antes respirará com a ajuda da normalidade daquilo que está fora de mim. O que sou certamente não interessa a ninguém, a minha biografia (como a de todos os que morrem) não tem mesmo nada a ver com aquilo que me estimula, motiva, me toca de alguma maneira;livros, filmes, música, arte, uma conversa, um sorriso, o exterior de mim inacessível, que eu sei que apenas posso aceder na certeza de que tudo o que eu possa pensar pode estar concreta e definitivamente errado. E chegamos a um espaço que na verdade não existe (e portanto é a própria negação de espaço) e onde o transitório se assume enquanto tal, abdicando da glória do papel, do disco, do quadro exposto no museu. O que distingue o artista moderno do antigo é a absoluta certeza do fim da obra-de-arte, e assim ele (o artista moderno) inventa, parodia a entropia iminente da obra que nasce, eliminando o tempo que decorre desde o nascimento à morte da obra, rasurando do processo da obra o olhar do espectador, negando-lhe a sua concretização final. Falar da brevidade da arte no espaço onde tudo é breve, apenas porque. O primeiro passo para a definição de um arquivo morto.