Tinha de ser, neste preciso momento, sobre José Mourinho. Está na moda, está, sim senhor, é um embaixador de Portugal no mundo, é sim, senhor, é o melhor treinador no futebol actual? Não tenho muitas dúvidas. E o que significa ser o melhor treinador?

Gosto de homens que sabem escrever sobre a bola, de Jorge Valdano, de Javier Marias, gosto das palavras a tentarem descrever a geometria instável de um relvado e dos artistas que se passeiam nele, gosto das aproximações muitas vezes goradas que as metáforas fazem sobre as fintas e os números de circo dos grandes jogadores de sempre. E o que tem isto a ver com José Mourinho? Tudo. Que pode escrever um poeta sobre a máquina de fazer golos e vencer jogos em que o Chelsea, como antes tinha acontecido com o Porto, se tornou? Que dizer da frieza dos números, da estatísticas que falam da eficácia concretizadora ou do conjunto vitórias/derrotas? O que se poderá acrescentar ao desenho táctico de Mourinho, ao carrossel de jogadores que sabem exactamente onde estar, quando estar e como estar, jogadores que sacrificam a sua humanidade no altar de Mourinho, jogadores que evoluem de medianos a imprescindíveis, peças da linha de montagem bem oleada pelo treinador? Não deixo de me sentir perplexo (ainda que não possa disfarçar o orgulho) ao ver a orquestra dirigida por Rijkaard sucumbir à locomotiva do Chelsea, despojado de verdadeiros artistas mas perfeito na sua certeza de vitória.

O espaço deixado à incerteza parece ter desaparecido com Mourinho. Quando o Porto ganhou a Liga dos Campeões, penso que era raro o português que não "soubesse", pressentisse, que o troféu vinha para Portugal. Já ouvi dizer que ele fez um pacto com o Diabo. Parece-me antes que chegou um génio ao mundo do futebol. Se gosto das equipas de Mourinho? Poderá amar-se uma equação em desfavor da beleza volúvel de uma árvore?