Tudo o que vale a pena não está aqui.



Director's Cut Vintage #6


E-mail this post



Remember me (?)



All personal information that you provide here will be governed by the Privacy Policy of Blogger.com. More...




Elephant, de Gus van Sant

Elephant
é um filme que esconde dentro o que à superfície não se nota. O plano de Gus van Sant é de uma simplicidade desarmante, e apoia-se nesta simplicidade para passar uma mensagem de aparente candura. A displicência das personagens, que se passeiam pela escola ignorantes da violenta ruptura do quotidiano que está para acontecer, acentua o carácter irreal dos acontecimentos posteriores. Mas não vamos ser ingénuos. Gus van Sant usa o antes e o depois para marcar uma posição, uma linha que subtilmente demarca o território entre caos e ordem, presente e passado imediatamente anterior. Os actos dos adolescentes que irrompem pela escola não são explicados, não precisam de explicação porque estão para além de qualquer explicação; apenas poderíamos encontrar pistas no interior, quando vemos os dois antes da acção prosseguindo nas suas tarefas normais de miúdos suburbanos. Mas a câmara de van Sant detém-se no exterior, não pretende invadir o espaço das personagens, limita-se a observar a espiral irracional de violência. Talvez porque se encontra no passado mais remoto, muito antes do dia em que chega a encomenda com as armas a casa, a semente do que está para acontecer.

A técnica de montagem utilizada no filme (que mostra os pontos de vista das várias personagens antes do massacre) serve os propósitos do mesmo. O que me leva a concluir que, mais do que um filme sobre um acontecimento em particular, este é um olhar sobre a adolescência, sobre o papel de transição que esta desempenha entre a ausência do mundo que representa a infância e a inscrição que a idade adulta obriga. Quando tudo está descentrado, desfocado, quando todos os possíveis ainda são prováveis, quando a alegre inconsciência do mundo ainda é permitida. O adolescente é alguém aberto à experimentação, encerrado em si e ao mesmo tempo vulnerável, ponto concentracionário de influências exteriores e tensões interiores. A pressão de um exterior desequilibrado pode ser fundamental nesta definição da personalidade adolescente. O espaço de liberdade absoluta é ilusório, mas a insconsciência que rege este tempo inquina irremediavelmente as eventuais decisões tomadas. Tudo é multiplicável, tudo pode ser potenciado na adolescência, a necessária relativização da importância dos acontecimentos é difícil; as consequências da pressão do mundo exterior sobre este interior fragmentado são, nesta obra, irreparáveis.


Rascunhos

Arquivos

Outros Lugares



eXTReMe Tracker