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Director's Cut #6


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Batman, o Início


O trabalho afigurava-se hercúleo, e a preparação adivinhava-se um desastre. Depois do projecto andar de mão em mão por meia Hollywood, depois de várias desistências e resistências da Warner Brothers a quem se foi encarregando da preparação do filme (incluindo o pouco subtil Joel Schumacher, inglório autor dos dois hinos camp involuntários, Batman Para Sempre e Batman e Robin), depois do casting perfeito de Christian Bale para o principal papel e da consequente participação directa deste último na construção do filme, em todas as suas vertentes, e da escolha de Christopher Nolan, autor do excelente Memento e do menos bom Insónia, para realizador, avançou-se e chegou-se rapidamente ao resultado final. E pode-se dizer que as hesitações da produtora compensaram; Batman, O Início, é simplesmente o melhor do franchise, até agora.
Quem, como eu, é seguidor há muito da personagem nas tiras de BD, e aguardava uma adaptação próxima do espírito de Batman, pelo menos do Batman visto pelos olhos de Frank Miller, Alan Moore ou Neil Gaiman, não se pode sentir defraudado com este filme. Há vários prós, e quase nenhuns contras. Para começar, Christian Bale como Batman. Bale começa a tornar-se um character-actor, o que por enquanto é bom. O lado agreste, moralmente dúbio e torturado do actor encaixa que nem uma luva na persona de Batman/Bruce Wayne. O que faz um homem transformar-se num vigilante, proto-fascista, o que faz um homem aproximar-se perigosamente da insanidade, do descontrolo total? (Asilo Arkham, a obra-prima de Gaiman e Mckean, é disso que falamos?) O medo, que é o tema do filme. A história já foi mostrada no primeiro Batman, de Tim Burton, mas Nolan arrisca a reformulação do mito. E sai-se melhor que Burton. À história do jovem Bruce Wayne que vê os pais serem assassinados por um delinquente na rua e que cresce sob a sombra protectora do mordomo Alfred (neste filme desempenhado por Michael Caine) é agora acrescentada uma nova personagem, a amiga de infância que se vai tornar assistente do promotor público, Rachel Dawes (interpretada por Katie Holmes). Bruce cresce e com ele o desejo de vingança, mas, por um acaso do destino, acaba por não vingar a morte dos seus pais. É encontrado por Ra's al Ghul (Ken Watanabe e Liam Neeson, surpreendente, em dois momentos diferentes), mestre ninja, justiceiro assassino que o treina nas artes do ninjutsu. No último momento, define uma fronteira entre ele e a insanidade, ao recusar matar um criminoso a sangue-frio, senha de entrada na seita de Ra's Al Ghul. Mas aprende a ultrapassar o medo, a semente que o transformará em Batman. E estamos a meio do filme, nem sombra do homem-morcego. Nolan consegue juntar no mesmo saco as artes marciais, o film noir e adaptação de uma BD, e no movimento confere profundidade, verosimilhança às personagens. O leitor de BD sabe do que falo: ao ler um comic, é preciso esquecer que os super-heróis usam collants ridículos colados ao corpo, capas esvoaçantes e pesam uma média de 150 quilos, a julgar pela massa muscular que os enfeita. Mas adiante. Mais importante que este descolar dos mundo dos comics será, para Nolan, o território demarcado em relação a Burton e Shumacher; mesmo o primeiro não deixou de criar um mundo que se aproximava bastante do conceito original de Bob Kane (criador de Batman), apesar do envernizamento formal (e autoral) aplicado. A segunda parte do filme não perde a força imprimida na primeira, e quando Batman finalmente se mostra (ou esconde?), assistimos, num entusiasmo crescente, a um desempenho esquizofrénico (a personagem assim o exige) de Christian Bale. O carácter duplo do homem-morcego é realçado, o monstro e o homem dançam sobre o fio da razão, apoiados num acumular de máscaras que quase acabam por esconder por completo o verdadeiro Bruce Wayne. O diálogo-chave do filme é aquele trocado entre Bruce Wayne, abraçado a duas boazonas, e Rachel Dawes. Esta, ao vê-lo naqueles propósitos, desdenha-o, e ele apenas consegue dizer que aquele não é o seu verdadeiro eu. Ela ainda responde que os actos de uma pessoa é aquilo que a define. Facto de importância futura para o enredo, como mais tarde no filme se verá. (Eu não direi porquê, pode ser um spoiler para o que se segue.)
Finalmente, um Batman de carne e osso, desprovido da plasticidade dos anteriores, é o que apetece dizer. Será isso permitido a uma personagem de BD?

Batman, o Início, foi realizado por Christopher Nolan e escrito por David Goyer e Nolan.
Mais coisas interessantes aqui. E aqui, claro.


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