Director's Cut #7
Arquivado sexta-feira, julho 22, 2005 por Sérgio Lavos | E-mail this post
Sinais Vermelhos, de Cédric KhanA dúvida instala-se. Já deve ter chegado à dezena o número de textos que li sobre Sinais Vermelhos, de Cédric Khan (realizador da porno-chachada intelectual O Tédio), quase todos pródigos em elogios hiperbólicos e profusa adjectivação pleonástica. Exemplar é o texto do inefável Rodrigues da Silva no JL, oportunamente citado no folheto de divulgação da Medeia Cinemas. (Descarto desde já fazer qualquer referência à relação promíscua entre críticos e o produtor de bigode portuga, também dono da referida distribuidora). Ora, estranho tanta euforia à volta desta obra; e começo a pensar se terei visto o mesmo filme de que todos falam. Rodrigues da Silva refere a montagem fabulosa, as interpretações soberbas, ou algo que o valha, e eu vi apenas uma sucessão de erros técnicos dignos de um qualquer filme português dos últimos anos. A longa-metragem tem problemas de continuidade (exemplo: logo no início, a alternância entre noite, dia e novamente noite); tem soluções de montagem questionáveis, inclusive nas sequências mais elogiadas, as que se passam dentro do carro; elipses desnecessárias que cortam o ritmo da acção (exemplo: quando o homem espera pela mulher no café); filmagem dos planos on the road com um pretenso ar clássico, em estúdio, mas que apenas consegue tornar o filme artificial, sem conseguir dar o passo necessário para o pastiche inteligente às obras citadas. E o que mais impressiona é o desperdício: da história original plena de veneno simenoniano e da referência abundantemente citada, o Hitchcock dos dramas conjugais transformados em thriller. Brian de Palma, num dia mau, daria uma lição merecida a Cédric Khan, assim como Roman Polanski. Sem falar no realizador francês que mais se aproxima do génio do realizador inglês: Claude Chabrol. Onde este exibe elegância e crueldade, Khan mostra exibicionismo e violência despropositada. Até François Ozon, em Swimming Pool, consegue ficar mais perto do universo do thriller de raiz americana. As boas ideias do filme são mal aproveitadas, incluindo a banda-sonora (ao estilo de Bernard Hermann, colaborador de Hithcock), e a sequência da redenção final, quando o homem começa a procurar a mulher desaparecida. Confrangedora é a cena dos telefonemas sucessivos, com o acumular de disparates e buracos na montagem a tornarem penoso o que se irá seguir. Enfim, sei que pouco disse sobre o enredo, o que mais interessa, talvez, mas a verdade é que também não queria ter escrito sobre esta obra em particular, procuro sempre falar apenas daquilo que gosto. Mas deixa-me intrigado esta profusão de recensões e críticas elogiosas a um filme tão imperfeito. Será assim tão invisível tudo o que parece, a mim, evidente?