Six Feet Under Undernotes*
Arquivado quarta-feira, julho 20, 2005 por Sérgio Lavos | E-mail this post
Escalpelizando um pouco, explicitando o que estava implícito, deixem-me acrescentar uma ou duas coisas:
- Na sequência final, o diálogo trocado entre David e o pai morto é excedentário. A linha narrativa seguida pelos argumentistas desde o rapto de David pedia uma conclusão nesta série, isso parece-me evidente. E teria de ser a conclusão óbvia, dado o tom realista do programa: a aceitação dos factos anormais da vida, a sua integração no quotidiano normal das personagens. Admitindo que as conversas mantidas com Nate pelas personagens são imaginárias, (uma das premissas de Six Feet Under, aliás), sabemos que apenas assim o problema de David seria resolvido. Mas o que eu acho é que as voltas dadas aos diálogos não foram as mais saudáveis. Regressando ao início: o diálogo é excedentário, a sequência não. Poderia se ter optado por outra solução; por exemplo, a ausência de diálogo. A câmara está lá para sugerir, também, nem sempre deve mostrar, descobrir. (Uma das razões da genialidade que transpira de Lost in Translation, por exemplo, é a discreta alusão a coisas que estão vedadas ao espectador). E mesmo aceitando que o ritmo televisivo não permitia este tipo de opção, recuso aceitar a simplicidade das palavras de David e Nate com leviandade; as deixas são mesmo um pouco desleixadas, pouco adequadas a um final de série e a um remate de uma linha de história prosseguida durante muitos episódios.
- Mas gostei do resto: da subtil transformação de Claire numa cabra egoísta; da aproximação de Claire e Bill; da nova vida de Frederico; e principalmente da resolução definitiva por parte de Nathan de tudo o que estava a obstruir a sua relação com Brenda. (A cena do suicídio parece-me bem inserida). Ah, e é bem feito o que está a acontecer a George: a ironia que existe na decadência progressiva da personagem mais irritantemente racional da série é um achado. Uma pequena vingança de todos os freaks que o rodeiam.
*Com a devida a vénia a esta casa,
e a esta, apesar da discordância.