O Mal de Rimbaud
Arquivado quinta-feira, outubro 20, 2005 por Sérgio Lavos | E-mail this post
O narrador inventado por Enrique Vila-Matas para o seu "Diário de um Homem Enganado", quarta parte de O Mal de Montano, interroga-se a determinada altura sobre a bondade dos viajantes no mundo actual. Que sentido fará partir do mundo num tempo em que o mundo pode entrar diariamente pela televisão em tua casa? O viajante de fato escuro e cartão de crédito, escreve Vila-Matas. Parece-me ser portanto duplo, o exílio do Homem moderno. A impossibilidade de fugir ao tédio quotidiano é terrível. O último grande viajante romântico foi Bruce Chatwin. Mas Chatwin pagava as suas fugas com antecedência, comprava a sua solidão. Ao viajante falta-lhe o desconhecido, aquilo que moveu homens como Rimbaud, Michaux ou Conrad. O ar postiço do narrador do diário de Vila-Matas (ele, outro inventado?) é tragicómico. Nos tempos que correm, o distanciamento irónico é a única atitude possível em relação ao peso que a vida pode ter em nós.