Era uma bicicleta que mais tarde veio parar às minhas mãos.
Corpo esguio, cromados reluzentes, uma promessa de velocidade
estonteante.
Passava por mim, e as minhas mãos vibravam no ar,
tentando capturar o seu brilho breve,
e já ao fundo apenas um esboço avistava,
um esboço de máquina e luz, uma recordação.
Depois da noite, não pensava mais nisso.
Descansava o jovem coração
noutras correrias, outras batalhas,
arrumava o desejo num ficheiro apagado,
até que outro dia chegasse.
Agora imagino a bicicleta: o metal resplandece,
uma combustão lenta esquecida pelo fulgor da manhã.
Onde ela dorme, onde ela apodrece, o lugar
escondido nas traseiras da casa,
o covil onde a infância desvanece.