Parecem-me inúteis e despropositadas as discussões que neste momento estão a acontecer na blogosfera a propósito do sismo de Aceh, relacionando-o com a época natalícia. A polémica (?) começou com um
texto de Luís Rainha no Bde, e continuou no Afixe, com a
resposta de Monty, e aparece
rematada por outro colaborador do Afixe, Bernardo Motta.
Achar que a existência de uma catástrofe natural é uma prova da inexistência de Deus, como faz Luís Rainha, ou é ignorância, ou pura provocação. A resposta dada por Bernardo Motta diz tudo, do ponto de vista de um crente, e consegue chegar àquilo que eu acho mais importante, que é o lugar onde Deus está. É óbvio que para um empirista, que acredita na ciência e nos desenvolvimentos que ela traz, há apenas uma questão que se coloca: estará Deus no início de tudo, terá sido ele que deu o impulso inicial, o Big Bang? Um crente dirá (e desculpem-me aqueles que acreditam em todos os dogmas das religiões organizadas) que sim, foi o dedo de Deus que deu o empurrão inicial para que tudo começasse. E eu, que sou ateu, direi que não, que existe um insondável mistério para a existência de tudo, mas nunca passará por uma entidade superior que tudo observa e gere, colocada do lado de fora do Universo. Mas admito que será uma questão de crença, como alguém diz na caixa de comentários do post de Monty; é tão difícil para um crente provar a existência de Deus (mas Espinosa esteve tão perto) como é para um não-crente provar a sua inexistência. E isto será Deus para mim, assim como para Bernardo Motta; ele acredita no Deus que inventou, eu não, por muito paradoxal que isto soe.
A demagogia que as palavras de Luís Rainha destilam parece-me demasiado superficial para ser credível. Aqueles que não estão satisfeitos com os resultados da sua própria busca de Deus é que utilizam este tipo de argumentos.
Vivemos num mundo hostil, que não nos pertence, que ainda não dominamos, apesar de, por vezes, acharmos que o controlo que temos sobre as nossas vidas é real. Não acredito na predestinação, mas também acho que tudo acaba por estar, de alguma maneira, fora de nós. O poder do verbo não vem directamente de Deus, como está escrito na Bíblia, mas de nós próprios, e é a nossa maior conquista. Foi a palavra que inventou Deus, foi a palavra que trouxe o exterior para o interior, nomeou as coisas para as tornar nossas. Isto é metafísica. Mas a física, nunca a conseguiremos controlar. Deus existe no interior, está por isso além de qualquer responsabilidade exterior.