Não sei se as poucas certezas que encontrei no livro de Stephen Hawking, O Universo Numa Casca de Noz, me deixam preocupado ou, pelo contrário, aliviado. Admiro o estilo de escrita: conciso, claro q.b. mas não simplório, acessível aos leigos da ciência. O livro restringe os assuntos abordados n'A Breve História do Tempo, focando-se no campo particular de estudos do cientista, os buracos negros, apesar de também viajar pelos últimos avanços na área da Física, a busca de uma teoria de tudo que unifique a Relatividade de Einstein e a Teoria Quântica.
Devo dizer que é bizarro o facto de a maior parte das teorias apresentadas na obra serem meras conjecturas, hipóteses, sugestões de resoluções. Hawking defende-se mostrando a sua visão da ciência: o positivismo permite sempre enveredar pelo caminho mais seguro. A crença (e é estranho esta palavra aparecer aqui, neste post) na eficácia da ciência é inabalável, e isso será, talvez, louvável. Mas quando, a certa altura, Hawking diz que nada no Universo pode pertencer à esfera da metafísica, esperamos a qualquer momento a revelação da verdade. Para ser sincero, é precisamente isso que procuro nos livros de ciência: a verdade. Mas já cheguei à conclusão que também posso encontrar a verdade num livro de filosofia, num poema de Eliot, num quadro de Turner, numa variação de Bach. O deslumbre estético permite um vislumbre dessa realidade que está vedada ao conhecimento humano. É uma coisa fugaz, volátil, permeável à influência do olhar, e por isso nunca há a certeza absoluta, tudo parece imagem, simulacro. O curioso é que esta sensação também acontece no mundo dos cientistas. Sabem o que é uma p-brana? Uma membrana de realidade que se multiplica até cerca de 11 dimensões, sendo que apenas 4 são visíveis. Sabem o que é o tempo imaginário? Não, não é o ofício da memória, seu engenho subtil, mas sim uma dimensão que atravessa o tempo real e lhe dá forma e consistência. O próprio tempo real é estranho: expande-se expandindo o universo, encetando com ele uma dança que se chama a dimensão espaço-tempo. Qual é a então a validade de uma teoria científica perante a fé, a existência de Deus? A matemática descreve o mundo, atribui valores aos fenómenos, mas começa a ser falível em determinadas situações extremas que ocorrem no Universo. Repito, é falível no nosso Universo conhecido. Mas admite, por outro lado, a existência de realidades paralelas à nossa, onde ninguém imagina sequer que leis é que se aplicam. O jogo da ciência é arriscado, mas tem permitido ao Homem um avanço no conhecimento do mundo e de si próprio. Mas haverá um limite, uma margem para além da qual nada é válido?
Hawking hesita, não admite, mas pensa nas entrelinhas. O príncipio da incerteza não será outro termo para descrever a imaginação humana?
Concluindo, é sempre estimulante ler boa divulgação científica.