Tudo o que vale a pena não está aqui.



Uma História para Ti


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Eu caminhava pela floresta. Densa, fechada, deixava que o sol respirasse apenas um pouco, através dos ramos mais altos. Em redor, um lençol de luz adejava, cobrindo e descobrindo folhas, troncos, agulhas. Eu caminhava pela floresta. Mais lento que as árvores, parado. Por mim os cavalos passavam, galopando e escondendo suas crinas nas esquinas, nos arbustos. Via o cheiro do pinho, sentia suas mãos tocar a margem do meu corpo, via um abismo trancar as mãos, o trote dos cavalos. Ao fundo, um rosto surgiu. De dentro de uma clareira até aí invisível. Permiti que ela, que o rosto era já ela, me serenasse. Antes, tremia com o frio solitário da floresta, um tempo de angústias que passara. Todos os seres vivos que eu vira nada eram, pálidas sombras. O seu rosto trazia uma chave, que utilizei para abrir a porta da fortaleza. Na minha mão direita trazia a pele dela, e a pela dela ardia. Eu caminhava pela floresta, mas o seu corpo me erguia, dava seguimento a um plano que em tempos sonhara. Quando a sua mão depositou nas mãos do carcereiro as moedas, tentei entrar-lhe pela carne, como um osso. Um osso dentro da carne, lícito, intrínseco. O resto dos nossos passos perdeu-se na planície por onde agora íamos. Um eco de riso infantil soava no dia.


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