Disse, há alguns posts atrás, que não pretendia fazer comentário político neste blogue, por variadas razões que agora não interessa especificar. Como se tem visto, não tenho conseguido resistir à tentação. Acaba por ser compreensível, dado o período de eleições que o país atravessa e, principalmente, o galinheiro que isto se tornou. A ideia geral é que não se pode descer mais baixo, mas a cada dia que passa, lá surge algo que desmente essa ideia, e obriga-nos a repensar o nosso conceito de baixa política. Eu sei que não é só aqui, em Itália temos o que temos, a Áustria passou por uma crise bem mais grave da qual conseguiu sair ilesa, a França tem o Le Pen e a Holanda teve o Pym Fortuyn e, há pouco tempo, o caso van Gogh. Bem, adiante. O que eu quero dizer é que, nos dias que correm, é difícil não se posicionar no centro das nossas preocupações o estado a que isto chegou.
Diariamente surgem novos casos, o de hoje apaga o de ontem, o de ontem apagara o de anteontem, a verdade é que a maior parte das pessoas acabam por esquecer o que foi dito há apenas uma semana, uma perigosa máquina de desinformação e propaganda foi posta em andamento e vai levando tudo à frente num rolo compressor que acaba inevitavelmente por varrer para debaixo do tapete aquilo que verdadeiramente interessa: o futuro do país. Mas o que podemos esperar depois de 4 meses do pior governo de sempre em Portugal, antecedido de três anos de um apertar de cinto irresponsável e incompetente, uma perigosa corrida em contramão em relação ao resto da União Europeia? Depois do circo que Sampaio permitiu, que outra atitude é que poderia vir de Santana Lopes, a ele interessa-lhe tudo menos discutir a herança da passagem do PSD pelo governo. Portanto, entretem-se a deitar areia para os olhos de todos, esbraceja furiosamente atingindo os que o rodeiam, tornou-se uma figura que a mim, neste momento, apenas inspira pena e vergonha.
Mas o pior não é Santana. O pior é a falta de opções à esquerda. Que dizer de Sócrates, o homem de olhar sério e vazio, indicativo do deserto de ideias que tem trazido à campanha? Quem acredita ainda que Sócrates tenha um projecto para o país? Pior, nós sabemos que as ideias que ele veicula são sopradas por outros, e que outros! Será que toda a gente já se esqueceu dos últimos anos de governação guterrista, de homens como Pina Moura, Jaime Gama, Fernando Gomes e companhia, a "tralha guterrista" que agora se coloca em bicos de pés de modo a assegurar um lugar no poleiro? Espero bem que não.
Chegámos ao ponto a que chegámos, e vemos, horrorizados, como Paulo Portas passa por ser o único político respeitável deste país. É claro que nós sabemos o que ele é, mas saberá o votante médio, o portuguesinho que apenas se preocupa com as contas a pagar no fim do mês? É isto o populismo, e receio que o futuro lhe reserve surpresas agradáveis. E a culpa é do PSD, partido-referência do pós 25 de Abril, mas também do PS, que ficou refém de uma estratégia incompreensível, quando Ferro Rodrigues se foi embora, e viu as suas melhores figuras recusarem a liderança do partido. Que dizer de Vitorino, que se reconheceu desmotivado para ser secretário-geral do partido e agora vem a terreiro anunciar que se encontra disponível para qualquer cargo no futuro governo? Expliquem-me lá, que eu não percebo. E o Paulinho das feiras lá vai, levando atrás um séquito de salazaristas ressabiados e meninos da Lapa fora de água, gritando aos quatro ventos o seu discurso demagógico e hipócrita, pescando em todos os rios onde existir peixe que morda o isco. Corre em direcção a algo que eu, sinceramente, espero não ser aquilo que toda a gente pensa: o poder total, o governo.
Infelizmente, é esta a política que temos, e o apelo para falar disso é irresistível. Desse modo, até às eleições vou privilegiar os posts políticos, esperando que depois o blogue regresse à sua linha editorial normal. Até daqui a uma semana, mais coisa menos coisa.