Há aqueles autores que trazem à literatura novos sinais de reconhecimento, expandem as fronteiras, produzem suficiente matéria para se consumir por séculos, - e não falo do consumo instantâneo do leitor -, e há os outros. Gosto muitas vezes dos segundos, confesso. E admito que os primeiros por vezes habitam em florestas de uma densidade difícil de desbravar. Mas quando o leitor consegue, é um deslumbramento. Mas um livro "difícil" (e sublinho as aspas) nem sempre é sinónimo de invenção; quero mesmo crer que os autores que deixaram esses faróis que guiaram os que se seguiram fizeram-no na doce ignorância do reconhecimento futuro. Muitas vezes porque lhes falta a fama no presente. Não deixa de abismar, por exemplo, o conservadorismo de Proust em certos assuntos. Na arte, na música. Na literatura. E no entanto, deixou o que deixou. (Apesar de a minha natureza desconfiada não acreditar nas vendas da tradução de Pedro Tamen de
Em Busca do Tempo Perdido; como antes escrevi, há livros que ficam bem na estante). Os poetas laureados, nobelizados, por outro lado, tendencialmente caem no esquecimento, com algumas excepções. E as ausências das listas dos prémios oficiais causam sempre espanto. Quem se esqueceu de Borges, de Kafka? Será que realmente tem alguma importância o esquecimento dos seus contemporâneos? Penso que foi Woody Allen que disse (e posso estar completamento errado nesta assunção) que não lhe interessa a posteridade da obra, prefere a imortalidade do corpo. No fundo este pensamento coincide um pouco com a epígrafe que mora ali em cima, à direita: o que verdadeiramente interessa não está nos livros, reside fora deles. Lugares-comuns que assentam que nem uma luva.