Director's Cut #10
Arquivado sábado, outubro 29, 2005 por Sérgio Lavos | E-mail this post
Last Days, de Gus Van Sant
Em
Last Days, repete-se o mecanismo de erosão aplicado às duas obras anteriores de Gus Van Sant, "Elephant" e "Gerry". O resultado final é quase como uma tela minimalista onde apenas respira o essencial: o motivo poético da auto-destruição, da espiral suicida. Poderia existir essa tentação, mas Van Sant acaba por não transformar Kurt Cobain numa figura estereotipada, o
junkie que se verga aos
clichés normalmente associados ao estilo de vida que os músicos
rock costumam abraçar. Mas, por momentos, duvidei. Antes, quando vi o filme anunciado, e durante. E durante, senti acima de tudo o incómodo da exposição de uma figura que foi para mim, em tempos, um ídolo, essa temível palavra que todos desejamos esquecer depois de a idade adulta se tornar coisa que se possa referir com propriedade. A depuração formal evidencia o estado do espírito da personagem (que por nenhum momento deixa de ser o músico que se matou com uma arma, apesar do nome, Blake; apetece-me pensar, como em William Blake), a muda decadência que perpassa da tela é uma extensão que toca o espectador de um modo urgente e doloroso. Por enquanto, escrevo apenas isto. O texto que tenho guardado em
draft, e que não sei se algum dia verá a luz da blogosfera, remete para outros sentidos da obra. Mais tarde, talvez.