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Jornalismo


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Por enquanto, os media tradicionais não correm o risco de virem a ser substituídos pelos blogues. Principal razão: a aparência de independência e objectividade a que a deontologia jornalística obriga. Ontem, depois do debate a que não assisti, dois campos completamente alheados da realidade que acabara de acontecer: de um lado os bloggers cavaquistas elogiando o comedimento e a capacidade de explanação de ideias do economista que quer ser presidente, no mesmo passo criticando a agressividade inusitada de Soares. No campo dos anti-cavaquistas (que engloba os apoiantes de todas as outras candidaturas e eventuais votantes em branco e nulos, portanto tudo o resto), um elogio rasgado aos ataques desferidos pelo ex-presidente e à consequente vitória obtida na refrega. Hoje, nos jornais: a má-educação de Soares, a sua falta de elegância; o vazio de Cavaco, a insistência demagógica em temas que nada têm a ver com as competências presidenciais. Dois maus candidatos, em suma. A quem não viu o debate, a blogosfera ofereceu ajuda nula. Cada blogue é um palanque onde os apoiantes esbracejam, reafirmando em crescendo de cegueira as qualidades do seu candidato. Em "O Desaparecido", há uma passagem que descreve um cortejo de um político em busca de votos, a turba meio enlouquecida de seguidores que, mergulhados num êxtase religioso, aplaudem cada palavra, cada gesto, ainda que involuntário ou acidental. A insanidade da democracia, vista pelos olhos de um escritor (Kafka) que desconhecia o menos mau dos sistemas. Alguém acreditará em algo tão prosaico como "verdade", quando falamos de política?


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