Se alguma virtude o
texto de Pacheco Pereira publicado ontem no Público possui, é a de ter quase decidido o meu sentido de voto. O ponto em que JPP pega, a aparente insinceridade de Francisco Louçã, é um tratado de manipulação e amargura maoista. Curiosamente, os argumentos de JPP pareciam (sublinho, pareciam) coincidir com algumas das minhas reticências em relação ao BE e ao seu líder. Mas o exercício de JPP esclareceu uma ou dois coisas: primeiro, que razão teria qualquer eleitor para não acreditar nas ideias do candidato do BE, continuando a aceitar que, na maior parte das vezes, os outros candidatos são sinceros? O medo do totalitarismo de esquerda, tão insidiosamente instigado pela direita desde o 25 de Novenbro, tornou-se completamente infundado, mais de 30 anos depois da revolução. O segundo ponto que me interessa foi sugerido por este
esclarecedor texto, no Aspirina B: a continuidade nos processos mentais dos ex-estalinistas, ex-maoistas e radicais de esquerda em geral entretanto convertidos ao Deus do capitalismo. Os exemplos abundam, desde JPP a José Manuel Fernandes, e sempre denotando métodos semelhantes na actividade exercida. O combate ideológico será isto, usar as mesmas armas sujas que se acusa o adversário de ter, nesse passo desvalorizando o vazio de ideias que ensombra a candidatura do messias Cavaco. Apenas uma coisa me intriga: porquê o BE, e não o PCP, partidos do mesmo campo político, disputando eleitores que oscilam no voto entre os dois? Ah, é precisamente essa a razão; a simpatia de JPP pelo velho partido comunista chega a ser comovente...