Lobo, de Mike Nichols
Pode um filme de autor ser mau ou mediano? Revendo
Lobo, de Mike Nichols, achamos que a pergunta nem se deve colocar. Gostei mais de ver agora do que da primeira vez, quando apenas Michelle Pfeiffer me fizera dar por bem gasto o dinheiro dispendido. Ela continua bonita, mas já não aparece há anos (reclusão auto-imposta ou exclusão de Hollywood, o tal problema que as actrizes têm de enfrentar a partir de uma certa idade - vide "Broken Flowers"?), Jack Nicholson entretanto ganhou mais um (ou dois?) oscares e virou canastrão, James Spader desapareceu do mapa (não sem antes ter passado por um dos melhores filmes dos anos 90, "Crash", de David Cronenberg - e atenção, que deve está aí a chegar o próximo filme dele, premiado e nomeado para os Golden Globe Awards,
A History of Violence). A abundância de pormenores
retro neste filme passara despercebida da primeira vez, mas a culpa será minha, muito me faltava ainda para julgar perceber um pouco de cinema; os
close-ups, as câmaras lentas, a atenção dispensada aos diálogos e um entendimento do cinema como passagem de tempo, visível nos longos planos-sequência que estendem a acção e cristalizam as personagens, marcas de uma década, os anos 70, que depois seria emulada pelos
nerds que compõem a nova geração de cineastas americanos (Wes Anderson, P.T. Anderson, David O. Russel, Spike Jonze). Nichols, realizador dos anos 60, filmou nos anos 90 este objecto deslocado no tempo, drama romântico e crítica às grandes corporações disfarçada de filme de lobisomens, obra de autor sem o conseguir ser, muitos defeitos, algumas virtudes, entre as quais a excelente banda-sonora de Enio Morricone. Pena que a prevista ascensão de Michelle Pfeiffer a estrela maior de Hollywood nunca se tenha concretizado, merecia mais o lugar de beleza pálida do cinema do que outras que entretanto lá chegaram, e não falo de Naomi Watts.