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Entrevistas


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Leio num blogue que querer conhecer um autor é o mesmo que querer conhecer o pato do qual foi feito o patê. Uma frase que roça o mau-gosto, mas que terá algum fundo de verdade. No entanto, o leitor fiel acaba sempre por cair nesse consumo extra; não lhe chega a obra, vamos lá devorar o autor. A leitura desta frase, por outro lado, remete para um post que tive vontade de publicar há umas duas semanas, depois de ter lido uma entrevista de Gonçalo M. Tavares ao Mil Folhas. Fiquei, sem dúvida, a conhecer melhor um escritor que se vai tornando importante no meu mundo de leituras, mas acabei longe do conhecimento total e completo. Porque a mesma mão que descobre, revela, também cobre, esconde. A escolha do entrevistado é absoluta. A imagem que constrói é aquela que pertence ao domínio da ficção, para além da obra escrita. A diferença em relação à verdadeira literatura é o grau de verosimilhança; o leitor de entrevistas acredita piamente no retrato do escritor. Vamos sendo enganados. O maior mérito de Lobo Antunes, na actualidade, é a soberba arrogância que transparece, que simula. Ainda que simulando conte a verdade. ("Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.") E Gonçalo Tavares segue o exemplo do mestre; diz que quem escreve tem de acreditar no que escreve. Mas não me julguem de forma errada. Concordo com a perspectiva solipsista e egocêntrica da coisa. Desprezo Bartlebys que desistem. Na minha ronda de leituras também fui parar a outra entrevista, a Ana Teresa Pereira, escritora do meu culto. Com alguma pena minha, diga-se. Queria continuar a ter uma imagem desfocada de Ana Teresa Pereira. Queria continuar a acreditar que ela mora num desses palacetes onde as suas personagens se movem, que o seu corpo possui a languidez, a graciosidade das mulheres duplas que assombram as suas estórias. Continuo, em parte. Mas descobri que ela não vive num palacete, nem tem (já) gatos. Mas come o que elas comem, lê o que elas lêem, vê os filmes que elas vêem. Sei mais, mas não sei tudo. Sei ainda menos do que antes.


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