Tudo o que vale a pena não está aqui.



A Força


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Por exemplo: um rio rasgando a floresta. Suas linhas esguias, curvas, fugidias, abrindo o caminho à força, nas terras, nas árvores, partindo a pedra, alargando as margens sempre mais além, um rio procurando o seu fim, o seu risco na paisagem, no mapa. Se estamos no rio só vemos a água, e o fio das margens, a folhagem das árvores e as sombras que se escondem por detrás delas, só conseguimos imaginar os ferozes animais que espreitam à espera da noite, e vimos o céu, o lume azul ardendo sobre o gume das copas mais altas, e o sol morrendo no frio da tarde que vai caindo. Vamos subindo e começamos a ver o espelho de luz do rio lá em baixo. Onde antes víamos troncos e rama avulsa, agora vemos verde e castanho, vemos sombra e lava cinzenta rodeando a margem de areia branca e incendiada, e vamos subindo mais e já só vemos um risco no verde, um risco de prata ziguezagueando num mar de verde, como se fosse um peixe escapando de um predador invisível, e depois só vemos verde e mais verde e fios pretos, quase apagados, até ao mais alto lugar do mundo onde tudo nos parece um sonho, um quadro difuso no escuro. Onde está a força agora? Nas cores, nas ondas de cor e de forma escura, no segredo que a mão pouco a pouco vai descobrindo, desvendando camada a camada um rosto novo para a floresta, uma região de luz e evidência, vai destapando um animal inédito, em toda a sua força.


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