Tudo o que vale a pena não está aqui.



Antiga forma #2


E-mail this post



Remember me (?)



All personal information that you provide here will be governed by the Privacy Policy of Blogger.com. More...




Uma mão aberta sobre a porta. E eles entravam. Quando visitou a casa pela primeira vez, tudo lhe parecera inquieto, os rostos e as conversas, os gestos e os corredores que se prolongavam de ala em ala, madeira e mármore deslizando ao ritmo da festa que acabava. Havia mesas onde homens jogavam cartas, o fumo dos cigarros pairando, mulheres que os observavam, distantes, outras mulheres segredando sentadas, elegantes, percorrendo com os olhos os outros convidados, os pequenos milagres e ridículos da boa sociedade que ali se reunia. Ele era uma peça deslocada do seu tabuleiro, sentia-o como um golpe dormente no peito. Tão adormecido que acabou por passar, até que o viu:
- Não o conheço...
- É a primeira vez que aqui estou...
- Ah!
Oferecia-lhe uma cigarrilha, e ele fingia aceitar, não fumava. A conversa arrancou, sem mais demoras, e alguns minutos passaram. Depois, o outro viu-a.
Ele também.
Trazia da rua aquele vestido como se fosse um dia branco e luminoso, claro ao ponto da cegueira. Um brilho de lâmina no escuro. E as palavras que sentiu entrar na carne, um vento quente do deserto.
O outro viu-a.
E falaram durante muito tempo.
Não sabe se foi ali que tudo começou. Agora, imagina que quando a noite chegou ao fim e todos regressaram a casa, quando apenas ele, e o outro, e ela, restaram, tudo voltou ao início, a aparição da mulher na casa. Os seus dedos-asas. Os olhos remexendo no canto do corpo onde o tempo nasce. O segundo em que ela disse ao outro,
- Olá, não te imaginava por cá.
sem que a frase rolasse para além da última sílaba. Definitiva.
sentiu o tempo vacilar, insustentado.


Rascunhos

Arquivos

Outros Lugares



eXTReMe Tracker