Biblos #8
Arquivado segunda-feira, agosto 22, 2005 por Sérgio Lavos | E-mail this post
A Literatura do Lado de Lá
Mas o que eu adorava mesmo era escrever como autor brasileiro. Sabe, uma fluidez, um meneio de língua sensual e ritmado, acredito, acredito mesmo que é no Brasil que a língua portuguesa realmente vive, eu leio autor português e é um bocejo, um repetir de situações, de palavras, meu deus, há alguns que escrevem como padre António Vieira e se orgulham disso, como pode?! Já está chegando a altura de pegarmos em Machado de Assis, Luiz Fernando Veríssimo, Sérgio Sant'Anna, Patrícia Melo, Raduan Nassar, Clarice Lispector, o grande Rubem Fonseca. O tédio que eu sinto ao ler aqueles cujo nome me escuso de referir, meu deus, e os outros que vendem como se fossem grandes revelações da literatura, quando tudo era já escrito assim há, no mínimo, cinquenta anos. Ainda agora andei passeando pelos blogues brasileiros e senti-me como se tivesse entrado numa sala fresca vindo do calor atrofiante que é maior parte da blogosfera portuguesa. É, eu sei que é moda agora dizer bem da literatura brasileira (até um curso está sendo editado agora, e ainda bem) mas não me importo, sou mais um. Queria dizer o assombro que foi ler "Um Copo de Cólera", de Nassar: como fazer poesia graciosamente, ao som da tropicália; ou que surpresa foi deparar há uns anos com algo que nunca irá ser escrito em Portugal, "A Grande Arte", de Rubem Fonseca: como produzir um cocktail onde convivem sem problema morte, amor e collness retro sem nenhum esforço de embelezamento, tudo rolando na perfeição, oleado e de costuras escondidas, como ninguém sabe fazer por cá. A vergonha de ser escritor, é o que parece ser o mal de quase todos os que escrevem em Portugal. Não queria insistir, mas é assim mesmo. Quem tem medo das palavras se arrisca a escrever rebuscado, sem assomo de entranhas. Falo disso no post em baixo. Apenas a poesia redime este estado de coisas.