Pese embora o ridículo que paira sobre a cena, não deixa de perdurar como uma das imagens mais marcantes da obra de Manoel de Oliveira: Leonor Silveira brincando com o dedo na corola da rosa, em
Vale Abraão. Parece careta, mas a energia erótica que se desprende desse fotograma é quase palpável. Muito longe estamos das porno-chachadas desprovidas de qualquer sensualidade que começaram a despontar a partir dos anos 70. A representação do sexo no cinema apenas resulta se funcionar a um nível simbólico; por exemplo, em
O Império dos Sentidos a sexualidade é a marca de uma cultura de submissão da mulher ao homem. Para que o erotismo actue então a um nível subliminar, teremos de observar o contrário: o sexo deve ser apenas sugerido, simulado. E Emma começou por ser para mim aquela mulher leviana que se entregava à inquietude (utilizando um termo querido de Oliveira) do prazer quase sem culpa. Distante portanto da Emma de Flaubert, como vou descobrindo.