Tábua Rasa #8
Arquivado segunda-feira, setembro 05, 2005 por Sérgio Lavos | E-mail this post
"- Tenho uma religião, a minha religião, e tenho mesmo mais religião do que todos eles juntos com as suas patetices e imposturas! Pelo contrário, adoro Deus! Creio no Ser supremo, num Criador, seja ele quem for, pouco importa, que nos pôs neste mundo para nos fazer cumprir os nossos deveres de cidadão e de chefes de família; mas não tenho necessidade de ir a uma igreja beijar salvas de prata e engordar com o meu dinheiro uma cambada de farsantes que vivem melhor do que nós! Porque se pode tão bem honrar Deus num bosque, num campo ou mesmo contemplando a abóbada etérea, como faziam os antigos. O meu Deus, é o Deus de Sócrates, de Franklin, de Voltaire, de Béranger! Eu sou a favor da Profissão de Fé do Vigário Saboiano e dos imortais princípios de 89. Por isso, não admito que Deus seja assim um indivíduo que se passeia no seu jardim de bengala na mão, que aloje os seus amigos no ventre das baleias, que morra soltando um grito e que ressuscite ao fim de três dias: coisas absurdas por si mesmas e contrárias à lei da física; diga-se de passagem que tudo isto prova que os padres se afundam numa ignorância torpe, onde se esforçam por atolar também as populações."
Madame Bovary, de Gustave Flaubert
(O livro não é só Emma. Este pedaço de prosa anti-clerical deve-se consumir de forma imoderada, sem restrições, por favor.)