Procurava uma imagem de
Touch of Evil, de Orson Welles, e deparei-me com o rosto de Sam Neill em
In The Mouth of Madness, de John Carpenter. Chegado a casa, abro o blogue e vejo
esta referência mínima ao filme de Welles, não a despropósito na semana em que estreia a versão inacabada do seu
Dom Quixote, objecto que tudo terá que ver com a megalomania quimérica de cuja fama Welles nunca se conseguiu livrar. O fulgor intermitente das obras que deixou afastam-no do cavaleiro da triste figura. O interesse de Welles é no entanto pista para a decifração de uma personalidade. E o que isto tem a ver com um dos melhores filmes de Carpenter? As personagens de Welles entram de modo progressivo e subtil em território desconhecido, perdem-se para sempre, sem se aperceberem da fronteira atravessada. No cinema de Carpenter, todos passaram essa linha há muito, o doloroso momento da percepção é aquilo que o espectador confunde com loucura, o mundo fora dos eixos de que falava Shakespeare. Ambos percorrem as mesmas estradas perdidas. E os monstros que as assombram são os mesmos.