Tudo o que vale a pena não está aqui.



A serena República


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A geração que fez o Maio de 68 tinha objectivos difusos, mas intenções puras, métodos aceitáveis. Era uma revolta dos novos contra a decrépita geração que estava no poder. Destruiram propriedade privada, sim, desafiaram as autoridades, levaram o caos à serena República. Um historial de população em fúria é a qualidade de um povo que muitas lições tem a dar ao mundo. O Ocidente como o conhecemos começou ali, a democracia e a ditadura, o comunismo e o nazismo, o liberalismo e o socialismo democrático. Se se pudesse perguntar aos que lutaram contra o que antes havia, eles saberiam dizer porquê. O que temos hoje? Jovens que se desresponsabilizam dos seus actos, dizem que a culpa não é deles, antes de um Sarkozy modelo do político populista e repugnante (apesar da aprovação da maior parte dos franceses). Não assumem portanto a revolta de que são motor. A base ideológica é nula, a geração que queima carros e ataca pessoas, destrói casas e igrejas, move-se à deriva, acossada nos guetos a que o país que os adoptou os sujeita. Na origem da situação estão as profundas desigualdades sociais que existem em França, produto de um liberalismo económico que precisa de imigrantes na sua máquina de produção, a exploração do outro é fatalidade inevitável, claro. Criado por uma sociedade que lhes suga o tutano, o golem acorda e reclama, age destruindo, a maneira mais fácil de gritar. A burguesia, é sempre a burguesia, agora classe média, que sofre na pele a distância entre ricos e pobres. O Maio de 68 foi uma revolução de estudantes, intelectuais, e tinha um objectivo que podia facilmente se tornar bandeira (como aconteceu) de uma geração. A única vaga ideia que preside aos actos dos delinquentes que atearam fogo à França é a religião. Uma vez mais, religião. Nascidos num país que não cumpre a promessa de bem-estar material, revoltam-se e falam das míticas pátrias de onde os seus pais fugiram, irónica reviravolta do destino. Nos sorrisos amenos dos políticos franceses pairam, em igual dose, cinismo e medo. A preponderância do primeiro não pode trazer nada de bom a tudo isto. Dos dois caminhos, repressão ou integração, apenas um me parece viável. E a quem interessa esta evidência?


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