Tudo o que vale a pena não está aqui.



Equívocos


E-mail this post



Remember me (?)



All personal information that you provide here will be governed by the Privacy Policy of Blogger.com. More...



Esta coisa dos equívocos e das evidências tem muito que se lhe diga. Leitura do dia, o jornal Público de domingo, porque obrigatoriamente tenho de passar os olhos por um dos nossos melhores escritores (e isto não é uma hipérbole) a escrever em jornais, João Bénard da Costa. Penso não valer a pena falar das outras qualidades da verdadeira alma da Cinemateca, projecto maior num país onde quase todas as iniciativas ou sofrem de precocidade ou não chegam sequer a nascer. Julgo estar acompanhado neste meu elogio a Bénard da Costa por todos os que gostam de cinema e passaram por Lisboa nos últimos 30 anos, e bastaria isto para merecer o prémio Pessoa recebido em 2001. Mas estas são as qualidades que para o caso não me interessam. Bénard da Costa escritor é um daqueles fenómenos que produz em mim uma ansiedade súbita, uma vontade de uma qualquer resposta superlativa, outro modo de admitir uma terrivel inveja perante a luz que se desprende dos textos que, note-se, todas as semanas são publicados num simples jornal, produto de usar e deitar fora. Hoje, ele decidiu escrever sobre um reencontro; com Cristina Campo, agora publicada na Assírio e Alvim na sua nova colecção "Teofanias", dirigida pelo poeta José Tolentino Mendonça. Quem, como eu, abandonou há muito os caminhos de um deus, apenas poderá se sentir abençoado com crentes como Bénard da Costa. Os seus textos muitas vezes reflectem a sua fé, mas fazem-no sempre com uma discrição absoluta, tal o pudor que se nota nas entrelinhas de tudo quanto ele escreve sobre religião. Julgo não estar muito longe da verdade se afirmar que acreditar em Deus é, para ele, uma questão estética. Os inúmeros (e sempre radiantes) textos sobre arte renascentista de cariz religioso comprovam o facto. Quem, de entre os vivos, poderá não crer em Deus com tais exemplos do seu poder criador pulsando através do Homem?
Vem isto a propósito de equívocos, ou não? Mas claro, basta ler hoje também a estreia de Maria Filomena Mónica nas páginas da revista Pública. Fraquíssimo texto sobre a depressão natalícia (tema mais cretino), ao nível de uma revista Xis, e aceitemos que esta até tem os seus méritos. Falta de estilo, falta de argúcia, falta de sentido de humor e um despudor absoluto na partilha com o leitor dos sentimentos mais comezinhos da natureza humana. Repare-se como ela abertamente se afirma ateia, sem qualquer tipo de constrangimento e nem por um momento denotando a dúvida essencial que fere qualquer crença (sim, crença; é preciso crer para não acreditar em Deus). No extremo oposto ao tom de Bénard da Costa na sua afirmação de fé, que se afirma cristão recorrendo ao mais útil e belo instrumento da poesia: a metáfora. Qual a evidência então, nesta história? Em que espécie de interesse se funda o equívoco de tantas cabeças pensantes que por aí pululam, é isso que me intriga. Mas claro que isto é retórica, as respostas apenas não as obtém quem não procura.


Rascunhos

Arquivos

Outros Lugares



eXTReMe Tracker