Entre nós e as palavras
Há um rio que nasce do silêncio
Um rosto de quartzo gravado no tempo,
Há longos gritos que crescem na árvore da noite
E ressoam ao longe acordando os cães
Na cidade,
Há um braço estendido na linha do rio aceso,
Onde os barcos ardem, onde as putas riem
Fumando o cansaço que transportas,
Há novas formas de dizer a luz,
Como se
Ela não descesse do teu corpo em volutas,
Nem procurasse na pele da nossa casa
Um risco que torcesse a linha da realidade, um assombro.

Entre nós e as palavras
Há como que um passo de despedida,
Uma dança que balança na mão, nas unhas claras
Elas dizem: como se a música não pertencesse a este lugar,
como se ela respirasse sua beleza contra um vinco
que corta desde o passado o papel frágil que me deste,
Elas dizem que um monstro de ferozes e negras distâncias
Se interpôs entre nós, mas eu resisto e falo;
As palavras, vivas na água que resiste à investida do Sol,
Sobem e traçam um corpo sobre o nosso. Sobrevivem.

Entre nós e as palavras
Há como que uma promessa de despedida,
Espelho onde o nosso amor resiste, na manhã perdida.