Tudo o que vale a pena não está aqui.



O tigre Borges (3)


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A matéria de que era feita a sua melancolia era tão veloz como o corpo do tigre fugindo pela casa. Portanto, não tinha uma origem definida. Quando reparava nos contornos da sua sombra, já ela se estendia pelas paredes, perdendo-se nos ângulos dos corredores, diluindo-se nos quartos abertos enclausurados no abismo nocturno, assemelhando-se ao silêncio que diariamente amortalhava a casa, durante a hora mortal. Ele procurava nos recantos do espírito a fonte de onde jorrara a luz cinzenta, mas de cada vez que as mãos do seu entendimento julgavam segurar entre os dedos o coração negro das coisas, tudo estremecia e no momento seguinte, desaparecia completamente, restava apenas uma fogueira apagada e cercada pelo frio do esquecimento. Seria da memória, do seu poder incontrolável? Se outro fosse possuído pela melancolia negra, poderia se libertar e descobrir a razão para a indesejada possessão? O tigre sonhava com a juventude, e com a força que ele pensava que, em tempos, derrotara a vaga azul que o assaltava. Culpava, desse modo, a velhice. Mas outra voz, nesse momento, lhe dizia, ainda não és velho, mas desejas sê-lo, sonhas com a sabedoria, ou a loucura, que a velhice te trará; perderás a velocidade, a força, mas ganharás a serena tensão dos insones, os que não conseguem conciliar a vida com a noite. Resignava-se ao sofrimento, na esperança de que o conhecimento, algum dia, o matasse.


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