Tudo o que vale a pena não está aqui.



Zinco


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O homem que dormia encostado às redes respirava como se a água fosse um elemento sólido e enchesse o barco até acima. Eu remava ferozmente, concentrado numa tarefa que exigia de mim um tempo que fugia. O mar encrespava-se, alterado por uma fúria quase humana, e o dia há muito respondera ao meu chamado recolhendo-se numa noite branda, uma faixa fina de luz espreitava, um sinal do norte por onde viajava e do seu sol da meia-noite mudando de frequência, transformando os sonhos até à invisibilidade. Por que me encontrava ali seria uma outra história. Uma ordem, um impulso interior de origem desconhecida, uma possessão. As pás dos remos afundavam-se, e os meus músculos retesavam-se, distendiam-se, esforçavam-se. Por baixo dos olhos, as pálpebras queimavam a retina, vincos fundos escavados na pele clamavam pelo sono, e eu apenas podia oferecer breves momentos de descanso, braços caídos sobre a água, corpo inerte. O homem que dormia sobre as redes pairava, acima de mim, e aguardava. Depois de muitas horas, um horizonte de sombra mais clara surgiu num fundo negro negro. Chegava ao meu destino, e aumentei o ritmo do esforço. Galgava a luz mortiça, a carne acolhia a visão daquele fim. O homem, retirado da vida, mexia-se um pouco sobre as tábuas. Acordava talvez, e ao longe o dia.


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