Tudo o que vale a pena não está aqui.



Achados e Perdidos #19


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Enquanto eles se lixam lá fora, nós por cá vamos discutindo os acontecimentos como se fosse um enredo de telenovela barata ou de série high-tech da SIC, no confortozinho dos sofás ou de um blogue, fora do mundo, como diz o outro, serenos observadores das coisas que passam. Elogia-se sem um pingo de consciência a atitude de atirar a matar da polícia inglesa, sem parar para pensar um minuto sequer em todas as implicações que o facto traz. Porque o que aconteceu, na realidade, foi um fuzilamento a sangue-frio, de um inocente imigrante (sem demagogias, é mesmo assim) que teve medo sabe-se lá do quê e desatou a fugir daqueles que o perseguiam. Mexe comigo ouvir ainda alguns comentadores deste post inacreditável sugerirem razões ocultas para a atitude impensada do brasileiro assassinado. Eu sei que a consciência pesa quando se concorda sem reservas com a chamada "luta anti-terrorista", mas não precisamos de inventar factos para desculpar este seguidismo acéfalo. Penso que poucas dúvidas haverá de que quem matou agiu sem pensar, movido por puro racismo, julgando um homem apenas pela cor da sua pele, e apenas poderá ter como atenuantes a ordem cega que recebeu e a ira provocada pelos acontecimentos recentes em Londres. Mas mesmo que seja compreendida a atitude do(s) polícia(s) que mataram, de modo nenhum deverá essa atitude ser aceite, sob pena de deitarmos fora, num piscar de olhos, um dos pilares de qualquer estado democrático: a primazia da justiça sobre todos os actos. Como é referido neste post, o que não pode acontecer é a polícia ter como método de acção atirar primeiro e perguntar depois. Mesmo que esteja em causa um possível terrorista (e sublinho possível) carregando uma bomba. E é aqui que a questão se joga; o Ocidente tem de perceber que abdicar de certos princípios fundamentais da democracia é perigoso a vários níveis. No imediato e no futuro distante, porque sabemos que muitas ditaduras começaram assim, insidiosamente corroendo o miolo do sistema; falar aqui de Nazismo (parece que essa é uma moda dos dias de hoje) não me parece de todo pouco próprio. (Mas se quiserem, posso substituir por Estalinismo, vai dar ao mesmo). Se continuarmos na senda deste abdicar de regras democráticas, eles ganham. Parece-me tão claro como água.
Esquecer o inocente que morreu, desvalorizar a morte de alguém, há um nome para isto. Evito escrevê-lo neste momento.


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