Tudo o que vale a pena não está aqui.



O fado


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Movo-me entre chamas. Literalmente. No sábado, ao regressar de Leiria, o fumo acompanhou-me. Até Lisboa. Hoje parto para Coimbra (algures em) e é quase certo que encontrarei o fogo. Passado um mês, os governantes decidem pedir ajuda a Espanha, depois de terem recusado essa mesma ajuda há umas semanas. Um delírio psicótico tomou conta dos pirómanos deste país, os construtores civis esfregam as mãos de contente, o primeiro-ministro indigna-se com a indignação dos comentadores na sua prolongada ausência. Mas dura pouco, ao contrário dos incêndios. A vidinha continua, excepto para os que perdem as casas. E, claro, há aqueles para quem a vida não continua, os bombeiros que morrem, os velhos que se recusam a fugir, as pessoas que ainda se importam. Movo-me entre chamas, parto para o norte, e não sei se critique o país onde, por um acaso, nasci, se tente culpar essa coisa portuguesa e triste que se chama fado; é que este tem sido um verão quente, há a seca, claro, o desleixo do governo anterior, é sempre assim. O destino não quer nada connosco. Do mundo perfeito e climatizado dos gabinetes em Lisboa, os políticos acenam. Onde pára quem ainda se interessa, os que podem mudar o ciclo das coisas repetidas, o fado?


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