A história do Piano Man é comovente. Por várias razões. Nenhuma relacionada com o alemão gay que agora resolveu falar. Quando ele apareceu perdido na cidadezinha inglesa, a coisa era boa demais para ser desaproveitada pela pouco escrupulosa imprensa inglesa, principalmente porque havia o precedente de David Helffgot, o pianista louco cuja história virou filme. Como abutres, eles rondaram durante semanas o homem que não queria falar e comunicava através da música e dos desenhos, organizaram um
reality show que correu meio mundo e despertou os instintos Andy Warholianos de centenas de oportunistas que se apressaram a reclamar como seu o filho de outro qualquer. Quando a verdade, esse animal matreiro que consegue estar sempre um passo à frente dos seus perseguidores, se revelou, tudo ruiu. E portanto, encontre-se outra verdade. Substitua-se. No meio do bombardeamento mediático, lêem-se coisas que ou são invenção, ou são meias-verdades, ou puro boato tornado notícia. Descobri
aqui, por exemplo, que o jornal Público truncou uma notícia originalmente publicada no Daily Mirror, coisa pouco abonatória para o jornal de referência português. Parece que a realidade seria demasiado chocante. Ou banal. O homem, antes glorificado, é agora crucificado pelos desiludidos fãs que foi granjeando. Acabou-se o conto de fadas. O que se seguiu: o regresso a casa do homem que, pormenor fantástico, arrancou todas as etiquetas da sua roupa. Culminando o sonho, era também anti-globalização. Pena que tudo não passasse de ficção.