Desconfio da muita conta em que o blogger se tem, quando começa a escrever textos para a imprensa tradicional falando de um quinto poder nas sociedades modernas. Aceito que se contemple a beleza do próprio umbigo (quem não gosta?), mas está para provar a influência que a blogosfera tem nos centros de decisão do país. Concedo que talvez seja apenas uma questão de tempo, sabendo até que ponto os media tradicionais já se começam a apoiar nos blogues e na informação complementar que aí recolhem. A reflexão tem no entanto que vir de fora, não do próprio espaço da blogosfera. O quinto poder será, parece-me, apenas uma extensão do quarto. Nos blogues que pretendem ter uma intervenção mais política o tipo de linguagem, apesar das nuances, será a jornalística; o espaço de opinião que o comentador político tem nos media tradicionais estende-se aos blogues, e é sabido como o percurso dos blogues é feito ao contrário no caso das figuras que já o eram antes do blogue: quem visita fá-lo pela notoriedade do blogger, quem não tem essa notoriedade dificilmente consegue ter importância fora da blogosfera. E há o caso curioso dos jornalistas com blogue, que aproveitam a maior liberdade de que dispõem na blogosfera para arriscarem opiniões mais controversas, linguagem mais pessoal, um discurso diferente daquele que é utilizado nos jornais. Ainda há muito para conhecer sobre este fenómeno, mas uma prova da marginalidade dos blogues é a recente campanha, iniciada por
Pacheco Pereira, a exigir a divulgação dos estudos que guiaram a decisão do governo no caso OTA e TGV. Se tivesse extravasado para fora deste mundo, o resultado teria sido outro. E será sempre assim, por enquanto.