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Propaganda é arte?


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Foi na terça-feira, olhei para uma banca de jornais e vi, mas não acreditei; a capa do DN parecia uma capa da Caras, era uma fotografia de Santana Lopes e Paulo Portas de sorriso aberto, e por cima, em letras garrafais, a palavra optimismo. Não me apetece comentar politicamente esta aberração proto-fascista, o Barnabé já o fez, e muito bem. (Mas isto é só a ponta do icebergue, como toda a gente sabe.) Quero antes falar da propaganda como arma política. O nome de Leni Rieffenshtal vem sempre à memória, mas não podemos esquecer os intelectuais que trabalhavam para o regime soviético. A pergunta que eu faço apenas pode ter uma resposta: sim, pode ser, porque a arte deve estar acima das ideias que pretende veicular. Como não admirar a serenidade da câmara deslizando pelos corpos dos atletas, a meticulosa escolha de planos, a alternância entre planos afastados e próximos criando sequências narrativas, o uso de picados e contra-picados para realçar determinado feito ou acontecimento no estádio? É claro que estou a falar de Olympia, obra-prima absoluta do cinema. Mas o Triunfo da Vontade, obra sem desculpa, sem defesa possível em termos éticos, não lhe fica atrás em genialidade. O espectador, ao olhar para as sequências brilhantes, recheadas de inovações técnicas, do filme, não pode deixar de admirar o poderio, a força que emana do exército nazi. Do outro lado da barricada, Eisenstein, antes da perseguição psicopata que Estaline lhe moveu, filmava Outubro, cúmulo artístico do cinema como montagem e exaltação gloriosa da vaga popular da Revolução. (Ainda que existam intenções críticas na mão do realizador.) Isto são exemplos de propaganda que é arte. Mas a arte, nestes casos, precede a propaganda. A obra existe, e sobre ela navega tudo o que é acessório, as ideias que, de qualquer modo, só são concretizadas quando o espectador visiona o filme. A única preocupação do artista é encontrar a melhor forma de passar a mensagem, o seu conceito pessoal de cinema em determinado filme. Quando é um génio que dirige as operações, apenas podemos admirar a genialidade da obra e esquecer tudo o que é acessório.
E que longe estamos destes tempos, quando a propaganda era uma arte...


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