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Realidade e pintura (2)


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Acabou de sair na editora Taschen uma antologia de um artista polémico, Andres Serrano, conhecido principalmente pela instalação Piss Christ. A minha questão é: será o confronto, o choque, suficiente matéria-prima para produzir uma obra-de-arte? Qual o objectivo de Serrano ao retratar cadáveres, ao encenar fotografias de SM ou hardcore explícito, que motivação ele tem para o que faz? O que virá primeiro, a reacção do espectador, ou a obra? A estética do horror, manifestação simbólica dos tempos modernos, atinge, vai atingindo um apogeu que apressa o seu colapso. O modelo de produção existe em função da troca final, entre obra/produto e espectador. O acto criativo deixou de ter um fim em si mesmo, o cliché estafado da arte pela arte, e o artista moderno pensa a arte como objecto replicante do mundo, interno e externo, e tenta abrir vias de abertura nesse mundo em direcção à terra, renegando a urgência de divino da arte pré-moderna. Tento não pensar no conceito e consigo ver, no caso de Andres Serrano, validade e inegável beleza.




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