Tudo o que vale a pena não está aqui.



A substância de Deus


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A realidade simula a sua existência, os sentidos lêem uma cópia, a película que cobre a essência. O que retiramos das coisas é apenas a sua imagem. Que, por sua vez, filtrada a informação pelos sentidos e pela razão, se torna a realidade unívoca, diferente de indivíduo para indivíduo. O arquétipo platónico não será mais que a ideia que o ser humano tem da coisa em si, seja um objecto, uma pessoa, um sentimento. (Pese embora o diferente valor que estes três termos adquirem). A coisa em si é a imagem desse arquétipo. Podemos falar também do númeno e do fenómeno kantianos, ou do significado e significante de Saussure e Wittgenstein.
Que sentido faz a palavra "deus" neste jogo duplo das palavras? Terá o mesmo valor que um sentimento? Por exemplo, "amor", quem duvida que o sente, quando o sente, e quem poderá adiantar mais do que: "Amo-te", quem saberá explicar o sentido do termo que utiliza? É claro que existem sinais físicos do "amor": biólogos detectam pequenas variações químicas no corpo, hormonas que são segregadas, sangue que circula mais rápido, um coração que bate mais descompassado. E será o Amor a soma destes sinais? Com "deus", nem sinais físicos temos. Dizemos Deus e ocorrem-nos mil e uma variações linguísticas que apenas substituem algo que não tem substância nem forma. Seria descabido afirmar que Deus é o nosso arquétipo de Homem bom, justo, o ideal que almejaríamos ser nas nossas vidas? Não me importaria nada se assim fosse, e para prová-lo tenho aquele lugar-comum que diz que cada um tem o seu Deus, aquele que é íntimo do Homem. A comunicação que existe entre os dois é interna, fechada ao mundo, uma tentativa de descoberta do exterior a partir do interior. O "deus" global, o das religiões de raiz monoteísta, é de outro mundo. Um mundo que precisa de uma figura paternal, autoritária, a quem o Homem possa recorrer quando o medo se apodera do espírito. E sabemos que o medo vive em nós desde o nascimento. A essência da vida é o seu fim, compreender a vida na totalidade seria aceitar a morte. Mas, em vez disso, inventámos Deus. Brincamos às escondidas.


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