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Director's Cut #2


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Life Aquatic With Steve Zissou



Depois do fabuloso The Royal Tenebaums, as expectativas eram altas para Wes Anderson, rapaz-prodígio da Nova Hollywood, companheiro de estrada de nomes tão dignos como Sofia Copolla, P.T. Anderson ou Alexander Payne. O que viria destas bandas, que colecção de bizarrias passadistas e psicadélicas Anderson traria desta vez? Fui ver este filme reconfortado nas críticas bastantes favoráveis que li, mas acabei por chegar à conclusão que há determinados realizadores que são levados ao colo pelos nossos críticos, enquanto que outros têm de realizar obras-primas para obterem as míseras três estrelinhas da média. (Caso sintomático é M. Night Shyamalan, que precisou do elogio público de Bénard da Costa para começar a ser notado no meio crítico português. E ele nem precisava de A Vila para provar a sua genialidade. O Protegido bastava-lhe.) Adiante. A verdade é que o opus anterior de Anderson já fora impressivo o bastante para que entrasse na sala de cinema de espírito completamente aberto. Mas o filme acaba por ser uma desilusão. Dezenas de boas ideias desperdiçadas é o mínimo que se pode dizer. Em termos plásticos há verdadeiros achados: Os uniformes da equipa Zissou, a paródia à série James Bond, as imagens digitais subaquáticas, os movimentos de câmara incisivos que acompanham as personagens na sequência inicial, deliciosa evocação dos festivais europeus (de lamentar a gaffe da ordenação de cavaleiro em Portugal - ah, a ignorância americana!). E, claro está, a descoberta de David Bowie, fase Ziggy Stardust, com sotaque português do Brasil, pela voz possante de Seu Jorge, actor pescado directamente do êxito internacional A Cidade de Deus. Outra coisa absolutamente positiva é os actores. E não vou falar de Bill Murray, colocado num pedestal por muitos daqueles que o tinham desdenhado nos anos oitenta; confirmam-se as qualidades, apesar do registo diferente daquele de Lost in Translation. Este Bill Murray tem mais a ver com o histrionismo interiorizado de Groundhog Day, filme desprezado e redescoberto na sequência do "descobrimento" de Murray. Falarei antes de Owen Wilson, eficiente e despachado; Jeff Goldblum, suculento e diferente. E Angelica Huston, William Dafoe, Michael Gambon. Mas, acima de todos, Cate Blanchet, numa espécie de êmulo, para melhor, de Gwineth Paltrow nos Tenebaums. Displicente, nervosa, tensa, rouba a maior parte das cenas a Murray. Desde Elizabeth que ela impressiona, e confesso que não vi O Aviador, mas neste filme enche-me realmente as medidas. (E, ainda por cima, trabalhou nas filmagens já grávida de 5 meses).
Olhando o que escrevi antes, parece que até acabei por gostar do filme. Bem, provavelmente as expectativas eram demasiado altas. Porque tudo aquilo que o filme tem de bom é apagado pelo tom demasiado artificioso da coisa. Não tem espinha, não tem wit, parece uma brincadeira de miúdos. A melancolia dos Tenebaums desvaneceu-se. Anderson levou-se demasiado a sério e teve medo de falhar, arriscou pouco. É um delírio controlado em demasia, uma homenagem que não é o pastiche que pretendia ser a Cousteau e aos seus documentários do mundo submarino. E que marcas o francês deixou na nossa infância...

(Nota: a banda-sonora é excelente; o supracitado Bowie, Iggy Pop, Devo e até Sigur Ros, com Staralfur, na sequência falhada da catarse final, para além da música original de Mark Mothersbaughs. A ouvir.)


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