Tudo o que vale a pena não está aqui.



Passar do tempo


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A chuva, pouco afoita, mal tocou a terra. À superfície o calor desperta agora para o seu ofício de fogo. A noite é como um ovo onde eclode a vida. Vi flores que desabrocharam, os pássaros, de sentidos turvos, ainda estão acordados num burburinho de fim de tarde temporão, os cães, inquietos, ladram a sombras invisíveis, os grilos nas mesmas tocas onde a cigarra de dia cantou desafiam-se uns aos outros, incansáveis. Na terra onde nasci, as rãs desafinam seu concerto pelos campos. Não estou lá, mas posso adivinhar. O passado é como um orgão excedente do corpo, e eu lembro. No limiar do que me lembro, o cheiro das laranjeiras abraçadas, o sabor dos damascos trincados no escuro, o terrível assalto dos insectos de estação, conduzidos por um desejo cego de sangue e carne. No limiar do que lembro, a fragrância dos jacarandás que lia nos livros, e que não vi até muito depois da partida. Agora compreendo. Aqui, no conforto de uma casa suburbana, sinto falta do centro essencial do mundo. Só não sei se é o campo ou a infância que me dói.


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