Tudo o que vale a pena não está aqui.



Director's Cut #1


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Pollock (2)



O filme, a primeira obra do excelente actor Ed Harris, alimenta-se da matéria-prima de qualidade que é a vida do pintor. Por vezes ultrapassa a sua ambição de biopic, principalmente na gestão das cenas onde Ed Harris e Marcia Gay Harden (ganhou o oscar de melhor actriz secundária) contracenam. Os tempos prolongam-se, Harris consegue não ceder aos ritmos de um cinema mais comercial e dá espaço aos actores para desenvolverem as personagens, acentuando um minimalismo na composição, que se evidencia também nos parcos diálogos que povoam o filme. Apoiado em bons actores secundários (onde se destaca, pela surpresa, Val Kilmer no papel de Willem de Kooning, comparsa de movimento de Pollock), Harris respira melhor, encerrado num rosto tenso denunciando uma convulsão interna que apenas se revela na tela, através da pintura. O início talvez prometa outros vôos, mas o filme acaba por cumprir todas premissas de um projecto pessoal desta natureza: admirar o artista sem escamotear os defeitos do homem, preencher com pathos as zonas brancas do acto de criar. Um pormenor muito interessante: as sequências em que vemos Pollock em plena acção, as tentativas de encenação de um momento que permanece misterioso para aqueles que apenas podem admirar a obra concretizada, depois de todas as hesitações, correcções, desistências. A descoberta acidental da célebre técnica pollockiana de composição de um quadro é significativa nesse sentido. O acaso dirige o mundo, o pequeno detalhe da criação.


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