Tudo o que vale a pena não está aqui.



Director's Cut #4


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Million Dollar Baby (2)



O que apetece dizer deste filme passa sobretudo pelo desempenho de Hillary Swank, Morgan Freeman e do próprio Clint Eastwood. O olho da câmara ignora tudo em redor, cria focos de luz que incidem sobre os rostos, os músculos retesados de Swank, as rugas amargas de Freeman e Eastwood. São seres que nada têm a perder, ou já tudo perderam, esta é uma história de homens enganados pela vida, arrependidos das opções que tomaram, perseguidos pelo tempo escasso que existe para reparar os erros do passado. Que verdade terrível persegue Frank Dunn, qual a razão do perdão que nunca chega da sua filha? Deixando tudo em aberto, apenas podemos pensar no pior; na sequência em que Frank vai pedir conselho ao padre e este, alheio ao sofrimento de Maggie (Swank) e do próprio Frank, lhe diz que se ele desligar a máquina será condenado a um abismo de onde não poderá escapar, Frank responde que já se encontra nesse abismo. O que se pode supor desta resposta? Que o dilema em que ele se encontra é o abismo, ou será algo mais profundo, algo que pode remontar à longa separação da filha? Afinal, qual a razão do afastamento dos dois, do retorno de todas as cartas que Frank envia a pedir desculpas? O leme que conduz o filme é a longa carta em forma de filme que Eddie Dupris (Freeman) escreve à filha de Frank, sentido pedido de desculpas e uma derradeira hipótese da humanidade de Frank se revelar aos olhos da filha perdida, uma hipótese de salvação. É uma obra profundamente cristã, esta, marcada pelo calvário de culpa e redenção de Frank, mas também pelas questões polémicas que levanta em torno da eutanásia. Apesar da eutanásia não ser leit-motiv do filme. É, antes de mais, uma muleta da narrativa, oferece o impulso para a redenção final de Frank. E demarca o território da mais infeliz das personagens, Maggie. Ela, que tudo arriscou, arrastando Frank (pela primeira vez) neste risco, termina sacrificada no altar da vida. "Ela é lixo", diz a determinada altura Eddie, e acaba por não conseguir escapar da sua condição de escória da humanidade. Tragédia, no sentido clássico do termo, em que nós sabemos que o destino das personagens está decidido desde o início.
O verdadeiro cinema, o genuíno, sem artifícios, aquele que aproxima o Homem da sua essência, comunga com a arte que nos tornou humanos, bebe nela, na tragédia ancestral, todos os mecanismos, técnicas, regras. Permitir que a vida, encenada pelos grandes, surja. Uma representação que cria uma realidade com aparência de real, não o sendo. A câmara apenas espreita, e nós através dela. Será isto cinema em estado puro?


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