Tudo o que vale a pena não está aqui.



Tábua Rasa #1


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O Vôo da Madrugada, Sérgio Sant'Anna



Quantas vezes já não desesperei de mim, diante da impossibilidade de escrever não uma grande obra e sim um simples conto, mas que aplacasse, ainda que por poucos dias, uma ânsia de realização e de beleza? Quantas vezes já não me desesperei diante dessa impossibilidade? Gemi, solitário, dentro de um quarto, abafei gritos, quis bater a cabeça na parede, cheguei a desejar, por causa disso, a morte? E me pergunto: quantos artistas, ou candidatos a serem-no, já não se mataram ao debater-se contra seus limites? Mas quantas pessoas de reconhecido talento, ou mesmo de gênio, também já se mataram por não suportar o tormento e a angústia encravados em seus cérebros? Uma lista tão considerável que nem vale a pena começar a enumerar aqui. Isso para não falar naqueles outros, escritores ou artistas, que terminaram suas vidas em hospícios, ou imersos no alcoolismo, às vezes caídos na sarjeta, como se houvesse uma maldição a abater-se sobre eles. Mas quantos malditos no mundo não tiveram nem o consolo da arte?


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