Tudo o que vale a pena não está aqui.



Achados e Perdidos #10


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Sono


Fotograma do filme "Sleep", de Andy Warhol

Longe vai o tempo em que me perdia na noite tentando conciliar o sono, em que sofria horrores inomináveis sendo torturado por demónios que todo o dia me deixavam descansar e me cansavam, apenas para poderem à noite de modo mais eficiente cumprir a sua função perturbadora, afastar-me do mais delicioso período do dia, me martirizar. Agora, por vezes digo a quem me diz que sofre de insónias que desejava poder dormir menos, ser um resistente daqueles que dormem 3 horas diárias, labutam sem sentirem o cansaço que eu habitualmente sinto dormindo as 8 horas da praxe. Claro que brinco com a minha sorte, ter uma consciência tão limpa ou tão suja é uma benesse, ela permite-me dormir, cair no sono e nos sonhos de modo tão súbito e profundo que por vezes sou acusado de possuir um casulo que me protege do mundo, me torna imune a todas as preocupações e atritos do meio circundante. (Mas isso não é um problema). Recordando os tempos de assombro da minha adolescência, agradeço a casa onde cheguei na minha busca metafísica; anos e anos negando a minha educação católica e o próprio Deus que a outros consola trouxe-me esta vantagem na vida. Porque julgo que, para além de todas as preocupações comezinhas do dia-a-dia, existe aquela que não tem, não pode ter, solução. O fundo de radiação por trás de tudo, a Resposta. A minha estratégia foi: ignorar o problema que não tem solução. Passei a dormir muito melhor, desde então.


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