Tudo o que vale a pena não está aqui.



Achados e Perdidos #7


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25 de Abril Sempre

Parece que hoje se voltaram a lembrar. Os diários virtuais não deixam de assinalar a data, burocráticos, vamos lá ver se isto não passa, vamos lá preencher o atestado de boa cidadania. O ano passado (ou há dois anos), ainda houve a polémica, digna apenas de um país como o nosso, do "R" da Revolução caído. Tudo passa. Os saudosos do 24 de Abril espreitam, ainda ontem os vi a celebrar a vitória do novo líder, acreditem. Insistem em saltar o dia no calendário, parece-me bem, coerente. As boas consciências, no entanto, continuam vigilantes. Como se fosse um velho exilado numa casa de repouso a quem basta uma visita anual de rotina, o 25 de Abril continua. Uma visita cansada, entediada, para não deixar morrer o espírito da coisa. Daqui a uns anos, será apenas uma história contada por Homens senis que viveram tempos de exaltação e glória, Homens que viveram um tempo estendido sobre o futuro, quando todas as possibilidades ainda estavam em aberto. Depois, décadas depois, será apenas uma data perdida, como o 5 de Outubro, o esquecimento mata primeiro os Homens, depois a memória deles, depois a memória dos dias. Coisas sem importância, de resto. O outro, o que caiu da cadeira, será celebrado como o maior estadista português do século XX, quase que garanto. É curto, o tempo que um país tem para expiar a culpa. Hoje, saudemos então a luta dos que não se quedaram de braços cruzados e tentaram mudar algo que precisava de ser mudado. Evidenciemos assim a nossa impotência, a nossa fraqueza extrema: não conseguimos transformar o que temos, não poderemos salvar o que restou. Celebremos.


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