Tudo o que vale a pena não está aqui.



In The Mood For Love


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Remember me (?)



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Passei o rio, e tudo voava em redor. Passei o rio, e entrei no país onde é permitido esquecer. Disseram-me que quem lá entra não volta. Avancei, e a luz cegou-me. Aninhado a um canto da carruagem, atravessei o rio, tentei espreitar pela janela, mas ela interpôs-se. Gritei dentro, cavei por dentro um grito que foi barrado à entrada do coração, mesmo na curva do pulmão esquerdo. Ela conseguiu retirar a lança que cravara em mim a tempo, mesmo a tempo do sacudir repentino do comboio. Olhei-a directamente, e não a suportei. De esguelha, fixei o meu reflexo, procurei o seu rosto no baralho de espelhos dançando na obscuridade. Parecia a cada momento esgueirar-se, brincava com o cansaço dos olhos, adejava em volta. No ponto onde a aprisionei, no meu braço crescia um pingente de sangue, rubóreo, no ponto onde a aprisionei, dizia, nevava. Caía neve e era um jardim onde uma fonte petrificada jorrava, onde uma árvore de braços retorcidos agonizava na sua vida de séculos. A meio do tronco espesso, muscular, um orifício. Ela escapara, mas eu já nem ligava. Espreitei, e vi um rosto transparente, decifrando o vazio que o contemplava. Uma palavra quebrou o silêncio da árvore, e ninguém a ouviu. Uma palavra apenas e eu regressava ao país do esquecimento. Lá, encontrei o homem que fora. Disse-me que nunca conseguira amar.


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