Biblos #2
Arquivado quinta-feira, maio 05, 2005 por Sérgio Lavos | E-mail this post 
Sabemos reconhecer a mão do mestre quando vemos o narrador falando da madalena de Proust sem o mínimo pudor. Uma das qualidades que distinguem os escritores americanos dos outros.
Ao devorar rápida e sofregamente estas migalhas cuja doçura - uma mistura de manteiga, natas, baunilha, queijo fresco, gemas de ovo e açucar - eu adorava desde criança, talvez visse a desvanecer-se em Nathan aquilo que, segundo Proust, se desvanecia em Marcel mal este reconhecia "o sabor da pequena madeleine": a apreensão da morte. "Uma mera dentada", escreve Proust, e "a palavra morte... (não tem)... significado para ele". E assim, fui comendo sofregamente, gulosamente, recusando-me a dominar mesmo que momentaneamente, esta fome canina de gordura saturada, só que no fim, não tive a sorte de Marcel.
in Pastoral Americana, de Philip Roth, editado pela Dom Quixote. A tradução é que não está à altura da obra.