Moral (2)
Arquivado sexta-feira, julho 29, 2005 por Sérgio Lavos | E-mail this post
Defendo o que o meu grupo defende, portanto. Os meus valores são os valores de uma entidade complexa, irregular e dinâmica, multifacetada, difícil de definir, por natureza, e pouco propensa à estabilização, à ordem. No fundo, apenas podemos falar de passado, memória ou património, ao procurar uma explicação para a existência deste sentimento de pertença. Mas mesmo que seja da ordem dos sentidos, o sentimento de pertença ao grupo acaba por nos dotar com os instrumentos que nos permitem fazer escolhas racionais enquanto nos constituímos como indivíduos. A escolha, a liberdade de escolha, é disso que falo. E esta liberdade é resultado directo do acesso ao conhecimento. Nas democracias liberais do Ocidente o conhecimento é um bem, apenas coarctado por pequenos defeitos que o sistema ainda não corrigiu. A censura não existe, as armas utilizadas são o excesso de informação e a manipulação da opinião pública que daí pode nascer. No entanto, tudo continua à vista, pronto para ser assimilado por nós, indivíduos, nada nos é vedado. Desse modo, penso não haver hipótese de hesitação na escolha que fiz: entre democracia (ainda que por vezes aparente) e ditadura, entre liberdade de discurso e censura de ideias e desvios à norma, entre protecção das minorias (apesar do muito que ainda há a fazer) e perseguição das mesmas, decidi. O Homem está condenado a ser livre, a frase de Sartre (a ironia trágica que envenena esta afirmação é evidente), apenas pode definir, por enquanto, a civilização ocidental. (E não vou falar das segundas leituras da frase, por enquanto serve-me apenas a leitura óbvia). O humanismo que esta tradição de conhecimento acarreta não nos permite fechar os olhos ao que se passa do outro lado, e neste sentido existe uma tentação totalitária na base do pensamento ocidental. Mas a relativização total das culturas é um mal ainda maior do que esta "vontade de poder" das democracias liberais, e é, acima de tudo, uma forma de pensamento conservadora, distante dos ideais que guiaram as revoluções que foram a matriz das actuais democracias, a de 1789 e a luta pela independência dos E.U.A. Acertados os ponteiros nesta questão fundamental, importa agora dizer por que é que considero decididamente errado o modo como está a ser conduzido o combate ao outro grupo.