O anti-Mourinho
Descobrimos há cerca de dois anos que um português, pelo menos, fizera uma pacto com o diabo, com isso atingindo a fama, a glória, a imortalidade. Mourinho, claro está. E se alguém duvidar da influência do mafarrico ou de outros poderes de origem sobrenatural, basta olhar para a maneira como todas as equipas do treinador do Chelsea vão conseguindo manter registos de vitórias/derrotas de outro mundo, muitas vezes com triunfos tirados a ferros, com a ajuda de golos surgidos do nada (veja-se o segundo de Drogba na recente final da Supertaça Inglesa), de cortes milagrosos de defesas que se materializam sem ninguém estar à espera, de defesas impossíveis dos guarda-redes. Eu não quero acreditar em bruxas, mas que tipo de homem é que consegue transformar o Maniche no grande jogador que foi (e já não é, desde que Mourinho partiu)? Ora bem, tínhamos portanto o Mourinho. E como em todas as grandes obras, também anda aí um anti-Mourinho. A meu ver, ele trabalha para os lados da Segunda Circular e chama-se José Peseiro. Se não, vejamos: ambos passaram pelo mesmo curso, portanto em teoria aprenderam a mesmas coisas; foram ambos adjuntos em equipas de renome, como é o caso do Barcelona e do Real Madrid; Mourinho começou a sua carreira de treinador principal na Luz e Peseiro culminou a sua carreira a menos de 1 quilómetro de distância; é inegável que os estilos das equipas que treinam estão em extremos opostos: ao futebol vertical, preciso e directo de Mourinho responde Peseiro com um estilo trabalhado (as más-línguas dirão mastigado), que previlegia a circulação de bola a meio-campo, e que acredita de forma quase religiosa nas virtudes do passe curto como caminho mais seguro para chegar ao golo. Os jogadores treinados por Mourinho precisam apenas de duas ou três oportunidades por jogo para que a vitória seja assegurada, os homens de Peseiro parecem por vezes andar num tiro ao boneco desalmado, acertando em todo o lado menos na baliza contrária, e até os árbitros ajudam quase sempre a equipa adversária. A palavra mais ouvida na boca de Peseiro deve ser, com toda a certeza, "azar". "Tivemos azar" "Não concretizámos", etc., etc, frases mil vezes repetidas durante toda a época passada. Quantas vezes ouvimos este tipo de discurso em Mourinho? Uma, apenas, e por isso nos lembramos dela. Quando o FC Porto empatou com o Sporting no jogo da camisola rasgada de Rui Jorge. A partir daí, o Porto arrancou para o campeonato. E a História acabou. Peseiro é uma espécie de animal sacrificado no altar de Mourinho, desconfio. A anti-partícula que permite que o universo de Mourinho continue a existir sem uma falha. (A eliminação da Liga dos Campeões o ano passado merece uma investigação aprofundada, fica para mais tarde). Enquanto os dirigentes do Sporting não perceberem isto, nada feito. Arriscam-se a ganhar o campeonato apenas daqui a alguns anos largos; o karma negativo dissipa-se de forma muita lenta.
P.S. Uma prova daquilo que afirmo: as vezes que troquei Mourinho e Peseiro enquanto escrevia o post. O Yin e o Yang, as duas metades do mesmo círculo, será isso?
*Série dedicada a todos os desportos, sem mais explicações.