Biblos #7
Arquivado terça-feira, agosto 09, 2005 por Sérgio Lavos | E-mail this post
J.D. Salinger é um autor que prova que a imperfeição pode estar associada à grande literatura. Sim, nem todos os contos de Salinger são irrepreensíveis, como o é "Um Dia Ideal para o Peixe-Banana", por exemplo, ou o comovente (no bom sentido) "Para Esmé, com Amor e Sordidez". Ou talvez a fasquia seja colocada demasiada alta, inalcançável para o próprio Salinger. O silêncio a que se remeteu depois de 1973 é, para todos os efeitos, significativo. Acredito, sinceramente acredito, que quando a voz da criação começa a falhar no Homem, este se deve gentilmente retirar de cena. Poucos o fazem. Salinger é um deles. Agora que releio "Uma Agulha no Palheiro" (assim, na tradução da Livros do Brasil) e descubro-lhe defeitos que estão ausentes dos melhores contos deste autor, (secos, precisos e elípticos como um bom conto deve ser), tenho vontade de pegar outra vez na estória de Enrique Vila-Matas onde este evoca o eclipsado escritor americano. A rapariga que descobre que a vida é apenas um longo intervalo sem memória, a literatura a máquina que resiste no lugar desse intervalo.
Nove Contos, editado pela Difel.
Uma Agulha no Palheiro, edição Livros do Brasil.
Bartleby & C.ª, de Enrique Vila-Matas, edição Assírio e Alvim.
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