Tábua Rasa #7
Arquivado terça-feira, agosto 09, 2005 por Sérgio Lavos | E-mail this post
J. D. Salinger (1919-)
- Posso indagar em que é que estava empregado antes de ir para o exército? - perguntou Esmé.
Disse-lhe que nunca tinha estado empregado, que só tinha saído da universidade há um ano, mas que gostava de me considerar um escritor profissional de contos.
Ela assentiu com a cabeça. «Publicado?», perguntou.
Era uma pergunta familiar, se bem que embaraçosa, e a que eu não era capaz de responder com sim ou não. Comecei a explicar que a maior parte dos editores americanos não passava de um bando de...
- O meu pai escrevia maravilhosamente - interrompeu Esmé. - Tenho algumas das cartas dele guardadas para a posteridade.
Disse que me parecia uma belíssima ideia. Aconteceu estar a olhar novamente para o mostrador do relógio dela, com o aspecto de um cronógrafo. Perguntei-lhe se tinha pertencido ao pai.
Olhou para o pulso com um ar solene. «Sim, pertencia - disse ela. - Deu-mo pouco antes de eu e o Charles termos sido evacuados. - Embaraçada, tirou as maõs de cima da mesa, dizendo: - Puramente como memento, claro. - Orientou então a conversa numa direcção diferente. - Sentir-me-ia extremamente lisonjeada se alguma vez escrevesse um conto exclusivamente -para mim. Sou uma leitora voraz.» Disse-lhe que o faria certamente, se pudesse. Expliquei-lhe que não era tremendamente prolífico.
- Não tem de ser tremendamente prolífico! Basta que não seja nem infantil nem estúpido. - Relfectiu. - Os meus preferidos são os contos sobre a sordidez.
- Sobre quê?- disse eu, inclinando-me para diante.
- Sordidez. Interesso-me extremamente por sordidez.
Excerto do conto "Para Esmé - Com Amor e Sordidez".